Prodígio em elaborar histórias mirabolantes, o cinema tem, no decorrer de sua história, nos surpreendido com filmes que apostam em narrativas “fantasiosas” e farsescas. Claro que o cinema é a arte da mentira, a arte da ilusão, onde mundos intergalácticos e heróis imortais são construídos. Mas, o que dizer de um filme que, por mais criativo que seja sua história, ao ser ouvida em um primeiro momento, nos faz pensar que só poderia existir na mente de um excelente roteirista? E quando essa história vem com a “chancela” de baseada em fatos reais? Resta nos crer que muitas vezes a realidade é tão irônica e criativa quanto um filme feito em Hollywood.
Esse é o caso de Argo (2012), que constrói uma narrativa tão absurda nos desdobramentos de seus acontecimentos que, se não fosse real, estaríamos perto de uma grande piada de uma comédia pastelão. Sendo esse seu grande desafio, o de não ser engraçado ao ponto de nos desviar a atenção do plot inicial de sua trama e nos envolver em um filme repleto de tensão, Argo ainda nos leva a uma reflexão sobre o poder da imagem e de uma arte chamada cinema.
No final dos anos 70, o Irã passa por momentos turbulentos. Em asilo político nos Estados Unidos, o aiatolá Khomeini causa a fúria da população que exige seu retorno para ser julgado, pagando por seus crimes. Em meio aos protestos em Teerã contra os americanos, a embaixada é invadida e seis diplomatas conseguem fugir e recebem asilo político na embaixada canadense. Um expert em exfiltrações é chamado para retirá-los dessa situação. Para que isso aconteça, ele forja uma produção cinematográfica de ficção científica, um híbrido de Star Wars e Planeta dos Macacos, chamado Argo, que usará o Irã como locação. Com um tom levemente contra o intervencionismo americano em território iraniano, o filme trafega com bastante desenvoltura dentro da metalinguagem que propõe: um falso filme dentro de um filme que serve apenas como pretexto para uma história maior.
Para quem vivia de fazer “caras e bocas” em filmes como Armaggedon (1998), Forças do Destino (1999), Pearl Harbour (2001), Demolidor (2003), e Contrato de Risco (pelo qual ganhou o prêmio de pior ator de 2004, o Framboesa de Ouro), Affleck alça com Argo uma superação invejável em sua carreira. E eu que, até então, nunca tinha visto com bons olhos suas atuações, acabo de me render ao Ben Affleck diretor, já querendo assistir suas duas realizações anteriores: Medo da Verdade (Gone Baby, Gone, 2007) e Atração Perigosa (The Town, 2010).
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