I’m so lonely, but that’s okay, I shaved my head …
And I’m not sad
And just maybe I’m to blame for all I’ve heard …
But I’m not sure
I’m so excited, I can’t wait to meet you there …
But I don’t care
I’m so horny, but that’s okay …
My will is good
“Lithium” – Nirvana
O Lado Bom da Vida (Silver Linings Playbook, 2012) é uma “comédia romântica” que se propõe diferente ao colocar-se em consonância com uma nova ordem das relações atuais. Relações essas que são limítrofes, entre personagens perdidos ou à margem do social, que radicalizam as polaridades dos sentimentos em relações muitas vezes mediadas por medicamentos, nas quais a busca excessiva pela felicidade, em detrimento da introspecção e da tristeza, é o catalisador de todos os males. Com isso a indústria farmacêutica vive o seu auge: nunca se consumiu tantos antidepressivos para “curar” quaisquer dos males que possa nos afligir, mesmo que tenhamos apenas vontade de ficarmos quietos até passar a dor que sentimos.
Pat (Bradley Cooper, em uma interpretação que não esperávamos ser possível, tamanha vulnerabilidade que ele imprime ao personagem) descobre sua esposa traindo-o e surta. Diagnosticado com transtorno bipolar, fica em uma clínica de reabilitação por oito meses até ser levado de volta para a casa dos pais (os excelentes Robert De Niro e Jackie Weaver). Pat apoia-se obsessivamente na ideia de um reencontro com a esposa e busca em frases típicas de livros de autoajuda, estratégias para continuar vivendo. A obrigação de ser feliz é a máxima desses novos cidadãos, para os quais a tristeza é sinal de fraqueza.
Oposto a esse personagem, que ainda encontra-se perdido em seu mundo de fantasias, temos Tiffany (Jennifer Lawrence, Oscar de Melhor Atriz e a queridinha da vez em Hollywood), que assusta em um primeiro momento pela franqueza com que abraça a tristeza, pela maneira que se entrega às dores e às frustrações de uma perda amorosa. Sabe que está perdida, mas não se ilude com essa perda, pelo contrário, vive-a em sua plenitude, encarando-a de frente.
Esses dois mundos tão díspares, mas ao mesmo tempo tão próximos, com duas formas tão diferentes de encarar um “problema/disfunção” é o que resulta no maior atrativo do filme, principalmente na interpretação cheia de nuances de Jennifer Lawrence, na medida certa entre alguém que não consegue superar a dor, mas sabe que é impossível ficar parada, portanto segue em frente, mesmo que para isso “atropele” algumas pessoas pelo caminho.
Mesmo tratando de maneira superficial o transtorno bipolar (estranho esse fato, pois o diretor fez o filme por ter um filho que sofre desse mal), respeita e tem um olhar extremamente carinhoso com os personagens, nunca paternalista ou condescendente. Eles são o que são, apesar dos sofrimentos, suas escolhas nunca são julgadas ou condenadas. Esse é o grande mérito do filme, trata-los com humanidade, com qualidades e defeitos, sem se preocupar em agradar o espectador. Quem nunca teve momentos de extrema sinceridade como a Tiffany? Ou fez coisas impensadas como Pat?
Mas, ao querer fugir tanto dos clichês impostos e marcados das comédias românticas, o filme acaba sucumbindo a ele no final. Com cenas ágeis, muita câmera na mão, o filme não nos deixa tempo para emoções, assistimos a tudo meio que anestesiados, sem nunca nos envolver completamente na relação dos dois, especialmente pelo motivo que os une: um concurso de dança mal explicado, extremamente forçado para justificar essa aproximação.
É um filme que fica nas boas intenções, faz um excelente diagnóstico das comédias românticas, tentando subvertê-las, colocando um pouco de originalidade em um gênero já tão desgastado, mas infelizmente erra na dose. Tinha tudo para ser melhor.
Veja o trailer abaixo e programação em Campinas:
Newsletter:
© 2010-2025 Todos os direitos reservados - por Ideia74